domingo, 3 de janeiro de 2010

ÉPOCA INESQUECÍVEL

.
ÉPOCA INESQUECÍVEL
.

.De 2 de janeiro a 27 de janeiro e de 27 de janeiro a 17 de fevereiro!
Poucos se lembram dessas datas, mas para ex-alunos do Colégio Catarinense da segunda metade dos anos 60 e primeira metade dos anos 70, elas podem remeter a um tempo muito bonito de nossas vidas.
Pois, nessa época, eram as datas em que iam a Pinheiral, respectivamente, a “turma dos grandes”, coordenada pelo Pe. José Montenegro e a “turma dos pequenos”, coordenada pelo Pe. Guido Sthal.
É inconcebível aos tempos atuais que jovens (somente rapazes) de 15 a 18 anos passassem 25 dias das férias de janeiro em Pinheiral, desfrutando de um esquema de vida em comunidade onde não havia telefone, televisão e nenhum dos inúmeros dispositivos tecnológicos que nossos jovens de hoje acham que existem desde Adão e Eva.
E até 1970, a energia elétrica disponibilizada era obtida através de um gerador acoplado a uma roda d’água colocada no riozinho que deságua na lagoa.
Com um detalhe: o dispositivo só era acionado no período da noite, ou seja, durante o dia não havia energia elétrica alguma.
E, além da tensão ser bastante baixa (as lâmpadas acendiam bem fraquinhas), devido ao fato da roda ficar o dia todo parada, um lado da mesma ficava molhado (com a água passando) e o outro seco, de tal forma que, à noite, a velocidade angular da roda não era constante, aumentando e diminuindo, o que fazia as lâmpadas oscilar seu (pouco) brilho o tempo todo.
Não lembro se, na época, havia geladeira na casa (Se havia, devia ser alimentada por querosene).
Tínhamos um radinho à pilha, que ficava perto do “seu” Dionísio (pai do “seu” Lavinho, o caseiro que lá ficou até o início de 1985).
O “seu” Dionísio, na época, já havia passado dos oitenta anos, mas estava forte e firme, pitando um palheiro e fazendo balaios de cipó.
Para irmos do Colégio (Catarinense) até Pinheiral, viajávamos de “pau-de-arara. Um caminhão com toldo de lona e bancos de madeira bruta eram o máximo de conforto que desfrutávamos na viagem. E as orientações do Pe. Guido de “não olharmos para trás, se não vomitaremos tudo e mais um pouco!”.
Apenas até 1970 fomos de caminhão desde Florianópolis. Depois, íamos de ônibus até Major Gercino e lá fazíamos a baldeação para o caminhão que nos transportava pelos 24 km de serra.
Se a estrada entre Major e Pinheiral hoje ainda está uma tragédia, imaginem 40 anos atrás! Onde estão os tantos ex-alunos do colégio que muito foram a Pinheiral e que hoje são ou já foram autoridades nesse Estado – incluindo aí o ex-governador Esperidião Amin que foi a Pinheiral várias vezes?

Pinheiral - fevereiro de 1970 - passeio na Cachoeira
De pé: Sergio Luiz Bartzack, Vidal José de O. Ramos e Sérgio Opuski;
agachado: Edson Osni Ramos (Cebola).

E lá estávamos nós, disputando os mais variados campeonatos: futebol de campo, futebol de salão (nada do futsal de hoje!) – com 1º e 2º times em cada equipe (afinal, normalmente o pessoal era dividido em 4 equipes de até 12 meninos), basquete, vôlei, bocha – a cancha de areia era a “céu aberto” e as bolas eram de madeira, dedão e outros.
Vai ser difícil explicar aos “de agora” o que era o jogo de “dedão”. E mais difícil ainda é dizer por que ficávamos na fila esperando vaga prá jogar “dedão”!
Ainda tenho uma medalha de “dedão – 1º time”, que ganhei nas Olimpíadas do Colégio em 1969!
E tinha ainda o presidiário (dia de “ajustar” algumas contas!), o acampamento – algumas das táticas usadas foram antológicas, como mudar a posição da barraca para cima da pedra, lá perto da subida do morro do Buião ou Poionn, como dizia certo Frater que auxiliava na coordenação das turmas e que não posso dizer o nome, pois é a autoridade hoje – gente boa!
Aliás, alguns vão lembrar, foi esse Frater que conseguiu a proeza de terminar um jogo de basquete empatado, em 1972 – a nossa equipe precisava ganhar por 5 pontos para ser a campeã, quando estava em cima da hora, estávamos apenas 2 pontos à frente. Pedimos “tempo” e “um dos nossos”, ao ver que o jogo estava acabando, decidiu fazer uma “cesta contra”, empatando, para ver se na prorrogação conseguiríamos a vantagem necessária.
“Sua senhoria”, o juiz, foi implacável. Fulano expulso e jogo encerrado!
Ahahah.
Pe. Guido e um churrasco dos anos setenta.

Outra de acampamento inesquecível foi (creio) em 1973, quando nossa equipe montou a barraca lá pros lados da Galícia. Havia um caminho único para chegar ao acampamento, que era ladeado por diversos coqueiros. Foi solicitado a um grupo, onde estava um querido amigo (que por motivos óbvios não vou citar o nome – inclusive dei aula para um filho dele nesse ano de 2009), que nós chamávamos de “Maluco do Roçado”, que “ninguém deve passar por aqui”.
Pois à noitinha, um dos coordenadores (acho que era o Pedro Gomes – um jesuíta extremamente culto e muito participativo – gente boa mesmo!) foi levar alguma mensagem do Pe. Montenegro para nós. Advinha se não foi literalmente nocauteado pelo ativo vigilante. Que depois, ao ver quem era, tentava reanimá-lo dizendo, “foi o que disseram que eu devia fazer!”
Lembro de outros coordenadores que iam conosco – creio que todos, à época, eram jesuítas: o Pauli, o Ataliba (Atalíbio Schneider), exímio tocador de acordeom, o Ivo (Pe. Ivo Hoffman, gente boa, mas que também “achava” que tocava acordeom), o João Gonzaga, que jogava futebol de salão pelo colegial – campeão estadual juvenil em 1971– Rodolfo (Gugu), Humberto, (Mário) Guesser, João Gonzaga e Serginho Abraham – baita time!
E ainda o Salézio, que hoje não mais é jesuíta, mas que deixou sua marca como indivíduo de grande caráter!
E dos companheiros de turma, citar nomes é um risco muito grande, pois certamente cometerei injustiças. Mas, como se esquecer do amigo Ademir (dos Santos), que sempre ganhava a medalha de “melhor companheiro”.
E do Cabeça (Henrique Limongi), do Dago (Caon), do Biafra (Carlos Alberto Hemann Fernadez). E, ainda, Jorginho Brüggmann, Brezola, Luiz Aurélio Baptista – grande cantor, Viriato Cunha, Dalmir Filho, Marcelo Philippi, Hipólito do Vale Pereira Neto, Marcus Damerau, Vilmar Piazzera, Carlos Eduardo Schmidt, Luiz Irapuam Campello Bessa Filho, Sergio Vieira (Bico), Sérgio Luiz Bartzack e tantos outros.
Na época, tínhamos os “cadernos de atas”, onde, a cada dia, o “chefe do dia” tinha como função, além dos apitos e chamados para as atividades, redigir a ata sobre todas as atividades desenvolvidas.
Nas últimas vezes que fui visitar Pinheiral e, depois, quando estive (em 2009) no Colégio Catarinense, não encontrei os cadernos. Será realmente lamentável se esse material foi perdido!
Alguns desses que citei já se foram para outra esfera do plano espiritual. Outros, vejo-os de quando em quando.
Outros ainda, nunca mais os vi, mas temos a convicção de que plantamos algo que nos é inesquecível: a amizade, o companheirismo.
A alegria de jogar e disputar competições que não mais valiam do que alguns sorrisos.
E tudo isso graças à paciência e a vocação dos trabalhos de indivíduos abnegados, que doaram suas vidas em busca de um ideal: Pe. Guido e Pe. Montenegro.
Quando se abre um jornal e se assiste um noticiário na TV, não são poucas as ocasiões onde se relatam problemas ocorridos com padres da Igreja de Roma. Problemas terríveis! Indivíduos criminosos, que sob as vestes de um pretenso serviço de “amor ao próximo” escondem monstros que depois, não raras vezes, tem seus delitos acobertados pelas próprias autoridades eclesiásticas.
Certamente esses indivíduos nunca conheceram o Guidão e o Montenegro.
E nunca foram ao Pinheiral.

Ah, depois fui ao Pinheiral muitas outras vezes, como professor do colégio. Mas isso será um outro relato!

Abraço a todos.
Edson (Cebola)

Nenhum comentário: