segunda-feira, 3 de maio de 2010

O MELHOR PINHEIRAL DE TODOS OS TEMPOS

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O MELHOR PINHEIRAL DE
TODOS OS TEMPOS
Pinheiral da Enchente - julho/83
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No dia do aniversário de oitenta anos do Pe. Guido (26/04/2009), fiquei conversando com a querida amiga e ex-aluna Silvia Schmidt sobre Pinheiral. Ela disse que foi muitas vezes a Pinheiral, sempre em turmas coordenadas pelo Pe. Guido. Embora tivesse sido minha aluna por dois anos, jamais tinha ido comigo. E disse que era porque sua mãe não deixava.
Fiquei pensando e cheguei a uma conclusão: provavelmente eu também não deixaria meus filhos, quando com quinze ou dezesseis anos, participarem de um Pinheiral comigo coordenando. Claro que comigo naquele tempo, com aquela idade.
A primeira vez que fui a Pinheiral, em 1970, tinha doze anos e era aluno do Catarinense. Participei de uma turma que lá ficou de 27 de janeiro a 17 de fevereiro, com a coordenação do Pe. Guido. Depois voltei muitas vezes, ainda como aluno do colégio.
A primeira turma que levei como professor do Colégio Catarinense, sendo responsável pela mesma, foi em 1978, quando tinha 21 anos.
Seguindo todas as orientações da direção do colégio, lá íamos nós, com uma equipe formada por mais jovens ainda do que eu. Como esperar que os pais, que não nos conheciam, deixassem, sem nenhuma “perda de cabelos”, seus filhos passarem lá um final de semana sob coordenação de pessoas tão jovens?!
Sem dúvida o Pinheiral mais espetacular, e mais perigoso, de todos foi o “Da enchente”, de julho de 1983.
Evidentemente era para ter sido cancelado, mais tudo conspirou para que acontecesse.
Uma semana antes tínhamos perdido nosso primo Marcos Wildner (12/07/83), ex-aluno do Catarinense, da turma de formandos de 81, falecido aos dezenove anos em um acidente automobilístico na avenida beiramar.
Esse Pinheiral seria o último do Luiz Fernando Rodrigues, na época frater jesuíta, que era nosso colega no Catarinense. Ele ia (como foi) fazer o curso de teologia em Roma e, certamente, ficaria muitos anos sem retornar a Pinheiral.
Após esse Pinheiral, somente voltei a ver o hoje Pe. Luiz Fernando em duas ocasiões: em um outro Pinheiral, em 1986 e em 1991, quando eu já não era mais professor do Catarinense. Tenho muitas boas lembranças dele!
Também seria um dos últimos do Geléia (Ewandro Araújo), na época ex-aluno do Catarinense (da turma de formandos 82), cuja família morava no Rio de Janeiro e era aluno do ITA (Instituto Tecnológico da Aeronáutica). O Geléia veio do Rio de Janeiro especialmente para o evento e, realmente, nunca mais foi a Pinheiral.
A turma estava motivada e as reuniões feitas deixaram o pessoal “pilhado”.
Porém, julho de 1983 é sempre lembrado como a época de uma das grandes enchentes de Blumenau e região. Que destruiu muitas casas e deixou muita gente desabrigada.
Também a região de Pinheiral (vale do rio Tijucas) foi afetada.
Na ante-véspera de nossa ida ocorreu um “dilúvio” na região. Na véspera, o Fedelho (Joel Gomes Filho), o Siqueira (Paulo Roberto) e mais um outro (acho que era o Frango) subiram com a missão de ver de era possível levar a turma. Como não havia telefone em Pinheiral (hoje já existe), eles deveriam, no dia em que subiríamos, sair bem cedo de Pinheiral e ir até Major Gercino. De lá telefonariam para minha casa. Conforme fosse, cancelaríamos a atividade.
O combinado era de que se eles não telefonassem, a viagem seria cancelada.
Pois antes das 7 h eles ligaram. Perguntei se estava chovendo e disseram que apenas tinha uma chuvinha fraca. No linguajar do Joel, “apenas uma garoazinha”.
Só que disse algo que me deixou preocupado. Por uma questão de segurança, tinham combinado com o Pe. Guido – que estava em Pinheiral – que iríamos de ônibus até São João Batista e lá pegaríamos um caminhão, lá mesmo de Pinheiral (do Orli) para o restante da viagem. Que não era para me preocupar, que tinham colocado bancos e uma lona no caminhão e que a viagem seria fácil.
E eu quis acreditar nisso, claro!
A Mariza e a minha filha Giselle iriam de carro adaptado para rallye (um Fiat 147), com o Pezão (Cesar Mauro Cardoso), na época professor do Curso Barriga Verde (pré-vestibular), e que já tinha ido conosco a Pinheiral em outras ocasiões. Como o Pezão era piloto, com bastante experiência em trilhas, fiquei tranqüilo (que loucura, na época a Gi tinha apenas sete meses!).
O Joel só não me falou que estava chovendo muito, que havia enchente em todos os lugares mais baixos e que corríamos o risco de ficarmos ilhados.
Disse ele, anos depois, que quando acordou (lá em Pinheiral) e desceu para tomar café, ainda escuro e chovendo muito, encontrou a Cecília (cozinheira da casa), que perguntou a ele se era para fazer almoço para a turma. Antes de responder (que achava que a turma não subiria), o Pe. Guido disse, com aquela voz de quem não admite ser contrariado (todos nós lembramos, não?! rsrsrs): “Cecília, faça comida para 44 pessoas!”
Era a senha. Imediatamente pegou o carro e desceu.
E, claro, contou a história de que a chuva tinha amainado.
No colégio a situação era horrorosa. Vários pais não queriam mais deixar os filhos subirem (hoje, acho que eles estavam com toda razão, na época quase briguei!). Uma mãe disse que eu tinha de cancelar a atividade, que se alguma coisa ocorresse a culpa seria minha.
Nem liguei (que risco, mô-Deus-do-céu). Como não apareceu nenhum diretor do colégio e o único jesuíta presente era o Luiz Fernando (que estava louco de vontade de ir), fomos embora.
Até São João Batista, com o ônibus da “enflotur”, pegamos muita chuva, mas estava tudo em ordem (já era asfalto). Já imaginava que de São João em diante (era estrada de chão batido - hoje tem asfalto até Major Gercino) a coisa não seria fácil.
Em São João fizemos a mudança para o caminhão. Falei com um conhecido lá, que morava em Major, e ele disse que talvez nós conseguíssemos!
Quase voltei dali mesmo!
Seguimos viagem!
Antes de chegar a Major Gercino o caminhão atolou duas vezes.
-"Desce todo mundo e empurra!", era a senha para mais uma festa.
Depois de Major ainda tem os vinte e quatro quilômetros de serra até Pinheiral.
Nem bem o caminão tinha se deslocado uns cinco, o motorista parou e disse que com aquela carga era impossível subir. Então vamos voltar, pensei, mas a Mariza e a Gi já tinham ido com o Pezão.
Um deles deu uma idéia: descemos uns quinze para subirmos a pé. Os demais continuam no caminhão. A maioria queria descer (acho que com medo da viagem). Mandei vários para o caminhão, com meu irmão Giba (Gilberto José Ramos, na época com dezessete anos). E lá fomos nós a pé (ou "de a pé", como dizem alguns).
Pegamos carona em uma carroça (parece piada!). Depois, mais caminhada e o grande susto: ao longe, andando em nossa direção, o Giba e mais uns três, completamente sujos de barro. Pensei que o caminhão tinha tombado. Tinha apenas atolado e eles estavam atrás de alguém que tinha um trator.
Lá fomos nós, agora empiriquitados no trator. O ônibus desatolou. Atolaria novamente no morro da Boa Esperança e no morro do Buião.
Havíamos previsto chegarmos a Pinheiral às 13 h. Eu e mais uns cinco chegamos (depois de outra carona, na carroceria de uma caçamba), lá pelas 16 h.
Pensei que a Mariza fosse me matar, de tê-las exposto aos riscos pelos quais passamos. Mas ela estava calma e achando que tudo havia acabado bem.
Mal sabia ela que nossa saga havia apenas começado.
Foi um Pinheiral maravilhoso e bem mais longo do que o previsto.
A chuva continuou.
Já imaginaram, quase dez dias em Pinheiral (era para ser apenas seis) sem energia elétrica?! Nunca uma turma fez tanta "programação cultural" como aquela. E nunca tanta gente ficou tanto tempo sem tomar banho!
Mas isto já é história, que conto outro dia.
Um abraço a todos que conviveram conosco naquele Pinheiral!
E a todos que um dia foram a Pinheiral!
E obrigado ao Pe. Guido, por todos os ensinamentos!
Prof. Edson Osni Ramos (Cebola)
A seguir, fotos da viagem, cedidas pelo querido amigo Jorge Lima.

Foto 1 - No caminhão, na ida: André Emílio Santos Sada.

Foto 2 - Com olhar assustado, Douglas Narciso. Ao lado, Jorge Lima e Cristiano Carioni. Por favor ajudem-nos a identificar os demais.

Foto 3 - Patrícia Mariot (hoje Zanellato), já com o chapéu do Frango (a coisa é antiga) e Simone Keller (hoje Füchter), ainda no ônibus. Na rua: chuva e mais chuva.


Foto 4 - Edson Cebola (parei de fumar no ano seguinte), Raul Cherem, Marcelo Galiberne Ferreira, Roger Faria (Biguaçu), Kaloline Meyer (será que agora posso chamá-la de Karolaine? rsrsrs), Rogério Cordeiro e Jorge Lima.



Foto 5 - Eduardo Chaves (Tabaquinho - que dificuldade lembrar o nome dele num dia em que estava conversando com sua mãe. Não ia me referir ao seu filho como Tabaquinho, claro! rsrsrs), Edson Cebola (a barba somente foi retirada dez anos depois, em 1993), Raul Cherem, Marcelo Galiberne Ferreira, Roseane Rilla, Joyce Koerich, Jorge Lima e Reitz (acho que é Rodrigo).




Foto 6 - ainda no ônibus, Alexandre Neves (primo do meu amigo João).





Foto 7 - Foto batida do caminhão: água para todos os lados.


Foto 8 - Que viagem!!


Foto 9 - O início da viagem de volta: novamente o caminhão! Agora seguido pelo fiat do Pézão.
Na foto, Luiz Fernando Lazzarim, Patrícia (com o chapéu) abraçada ao Frango (é realmente coisa antiga!), Roseane Rilla, Mônica Morro, Graziela Dias Alpersted, Roberto Melo, André Emílio e Reitz.





3 comentários:

Marcos Veiga Pereira disse...

Que "Santa Inveja" não ter participado deste Pinheiral da Enchente. Viagem digna de um autêntico "Turismo de Aventura". Até neste quesito Pinheiral é Pioneira. Abraços. ( Marcos Veiga Pereira )

Graziela Esteves disse...

Que bacana, Cebola!!!
O meu primeiro Pinheiral foi no ano seguinte, em 1984 e vc tb foi meu dirigente!!!
O Douglas Narcizo está demais na foto!! rsrsrs
Parabéns pelo blog.
beijo.

Prof. Pezão disse...

Foi um Pinheiral maravilhoso ... Hoje, sábado, 2 de março de 2013, lendo o que o Cebola escreveu, veio todo o filme à minha cabeça ... Eu não acho que foi imprudência termos ido sob aquelas condições climáticas, foi garra, vontade, felicidade, desafio ,amor, companheirismo, enfim ... todos os bons adjetivos podem ajudar a justificar a decisão tomada de irmos à Pinheiral. Hoje, aos praticamente 52 anos de idade, sinto muitas saudades de todos ... principalmente dos queridos amigos que se foram. Agradeço ao querido amigo Cebola (Prof. Edson Osni Ramos) por ter tido a iniciativa de criar o Blog registrando momentos maravilhosos de nossas vidas.